A Cultura da Convergência
Um fenômeno que está a nossa volta é o da convergência.
Trocando em miúdos, a convergência é um fenômeno no qual as diferentes mídias
se interagem e se entrelaçam, formando interações novas. Ao contrário do que se
previa nas décadas de 70 e 80, as novas mídias não excluíram as antigas, e sim
se relacionam com elas. É uma evolução natural e é bem explicada por Henry
Jenkins em seu livro Cultura da Convergência.
No livro, Jenkins explora bem o fenômeno da convergência,
não apenas do ponto de vista cultural como também do ponto de vista
publicitário. Utilizando exemplos da vida real, o leitor é levado a uma nova
visão da comunicação nos dias de hoje, que requer uma aproximação diferente da
habitual. Ao utilizar exemplos, como o de Survivor
e American Idol, o leitor tem uma
facilidade maior de compreender a complexidade do fenômeno da convergência e é
convidado a refletir sobre o seu cotidiano, principalmente no quesito de
consumo de mídias e noticia.
O autor também cita casos em que a convergência foi
utilizada de maneira incorreta, como o da série Matrix, e aponta onde foram
cometidos erros e como poderiam ter sido evitados, ao mesmo tempo explicando o
conceito de narrativa transmidiática e seus prós e contras. Não se restringindo
a isso, Jenkins leva o leitor mais a fundo, mostrando exemplos de narrativas
bem sucedidas, como os que envolvem a saga Star Wars, os fãs que tornam disso
um hobby e como esses trabalhos acabaram afetando o trabalho original.
Apesar de ter sido lançado a alguns anos atrás e possuir
alguns conteúdos datados, A Cultura da Convergência é uma luz na escura caverna
que é a informação do século 21, trazendo um princípio que já é praticamente o
padrão desde novo século, no amanhecer da revolução da informação e da
internet.
Convergindo o futebol americano
Desde 2011 minha rotina aos domingos se reduziu a chegar em
casa após o almoço de domingo, ligar uma TV na ESPN, um notebook em um
navegador e um desktop ligado com o cliente de Twitter TweetDeck. E logo antes
mesmo do primeiro passe ser feito, as redes sociais já estão fervendo com
notícias sobre futebol americano. Eu me incluo nisso, já que antes mesmo dos
jogos começarem já possuo informações sobre escalações, jogadores inativos,
prévias, notícias e até mesmo sobre o clima no estádio. E a cada lance feito,
lá está alguém no twitter com um link para o lance, ou um comentário, ou uma
piada. Utilizar o Twitter para acompanhar os jogos da National Football League
(NFL) é uma experiência multimídia enriquecedora.
O fenômeno da convergência tem tomado cada vez mais conta do
nosso cotidiano. Para quem não conhece o termo, trocando em miúdos, é
basicamente a integração de diferentes meios de comunicação, como internet, tv
e rádio. Os meios não estão mais isolados um do outro e sim se unificando: hoje
em dia você pode interagir com o DJ da radio pelo Twitter, ver um canal ao vivo
e participar de programas pelo computador e por ai vai. Esse é o fenômeno da
convergência na pratica.
No cenário dos esportes o fenômeno da convergência demorou
um pouco para se mostrar e instalar. Um dos esportes que mais tem se
beneficiado disso é o futebol americano, um esporte aparentemente bruto mas
incrivelmente complexo. Em suas transmissões até o começo do século 21 eram bem
“cruas”, com apenas alguns números exibidos na tela. Com o passar da década, a
NFL começou a adicionar mais conteúdo ao vivo e a interagir mais com os
espectadores através das redes sociais. No canal oficial da liga nos Estados
Unidos, a NFL Network, os espectadores podem mandar perguntas ao vivo pelo
twitter e pelo facebook para alguns programas, como o Fantasy Football Live, e
tweets são mostrados durante algumas jogadas, como no NFL GameDay.
Aliás esse é um dos pontos onde a NFL investe mais na
convergência: no Fantasy Football. Utilizando um modelo parecido com o
“Cartola” aqui no Brasil, os fãs podem montar times em ligas particulares e públicas
e vão ganhando pontos conforme a performance dos jogadores nos jogos reais.
Esse é um passatempo extremamente popular na América e um dos símbolos do
futebol americano por lá. Antigamente era tudo feito a base de papel, lápis e
alguns programas de TV que davam alguns números. Hoje as estatísticas aparecem
na TV, se atualizam em tempo real na internet e trocadas entre fãs pelo
Twitter. As próprias transmissões dos jogos, dependendo da emissora, mostram
essas tabelas ao vivo numa área da tela dedicada.
A adoção da internet se provou fundamental para a expansão
da base de fãs do esporte, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países.
Sua natureza complexa se tornou mais compreensível com o avanço da internet e a
possibilidade de trocas de informação em tempo real. O fã que antes deveria
aprender na marra pode ir muito bem atrás das regras, vídeos explicativos e até
mesmo outros fãs e jornalistas da área. Em países que o esporte não é tão
popular fãs começaram a se unir através da internet, aumentando cada vez mais a
presença nesses lugares.
A NFL, a MLB (liga de baseball) e a NHL (liga de hockey) tem
abusado da convergência para atrair cada vez mais espectadores. Ao passo que
alguns esportes já abraçam essa causa, outros maiores ainda precisam dar passos
maiores. É o caso das ligas europeias de futebol e em outros países. Devido a
sua natureza mais fácil e entendível, as grandes ligas não veem necessidade de expandir
na parte multimídia. Porém esse recurso tem gerado grande demanda pelo
espectador moderno, que não quer mais ficar apenas vendo os jogos. Ele quer
interagir, se conectar e torcer com outros fãs. Por hora, convergência não é
algo de urgência, porém daqui a alguns anos é evoluir ou ser extinto.
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